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Segue abaixo uma compreensão que obtive do texto, considerando os pontos abordados pela autora Cristiane Paes, mesclando com algumas considerações pessoais para os cinco tópicos solicitados para discussão desse fórum:
A crise econômica é uma realidade factual no contexto brasileiro, afetando vários setores, dentre eles a própria gestão eclesiástica. Cristiane Paes aponta que há um quantitativo de 14 mil igrejas evangélicas abertas a cada ano no Brasil (considerando o levantamento feito por ela no ano da publicação do artigo), as quais a grande maioria está funcionando de forma irregular. Dados mais recentes, de julho de 2023, por meio de um levantamento realizado pelo jornal Estadão, aponta que em média 17 novos templos são abertos por dia no Brasil, com maior incidência na região sudeste, porém a questão da irregularidade se mantém. Um levantamento, realizado pela Agência Pública por meio da Lei de Acesso à Informação (LAI), revela que 1.283 organizações religiosas devem R$ 460 milhões ao governo. Desse total, 23 igrejas possuem dívidas de mais de R$ 1 milhão cada uma.
Tudo isso demonstra que há uma real necessidade da liderança eclesiástica entender sobre gestão divina, para que o trabalho de Deus seja realizado da forma correta, na orientação do Espírito Santo. Porém, é preciso verificar se há um conhecimento de fato sobre gestão de igrejas. O estado da arte levantado por Cristiane Paes, em 2018, indica a redução da busca pela compreensão dessa tema dentro do levantamento realizados em materiais diversos e em diferentes repositórios. Isso já é um primeiro sintoma sobre a deficiência em pesquisas na área e pela busca, dentro do meio eclesiástico, de aperfeiçoamentos em gerir as igrejas, que não seja de forma secular ou usando estratégias empresariais.
A etimologia do termo “gestão” decorre do latim “gestio” que significa “ato de administrar” ou “gerere” que denota “gerenciar, levar, realizar”. Entendo que a gestão eclesiástica vai além disso, como a própria autora coloca. Para Cristiane Paes, gerir uma igreja é gerenciar o sistema e os procedimentos administrativos e demais elementos que compõem a estrutura da igreja, somando princípios aplicáveis, ética e competência equilibrada pelo poder de Deus, sem ignorar os direitos e deveres legais, utilizando técnicas e procedimentos amplos e eficazes dentro da forma de governo, da visão, dos valores e dos princípios eclesiásticos que se preconiza, num processo sistêmico e transparente, com foco nas pessoas, no intuito de alcançar metas e objetivos bem definidos previamente junto à liderança local, na direção da missão cristã. Além disso, adiciono que na gestão eclesiástica, os líderes religiosos e administrativos geralmente trabalham juntos para garantir que a missão e os valores da instituição religiosa sejam cumpridos de forma eficaz e eficiente. Isso pode incluir a organização de serviços religiosos, a administração dos recursos materiais, o cuidado pastoral, a educação religiosa, o apoio a programas de caridade e assistência social, entre outras atividades. Assim como em qualquer outra forma de gestão, a gestão eclesiástica requer habilidades de liderança, comunicação, planejamento estratégico, organização e tomada de decisões, adaptadas às necessidades e contextos específicos das comunidades religiosas.
Como parte dessa gestão temos a figura do gestor cristão. Ele não precisa exercer o ofício sacerdotal para se um gestor na igreja, mas precisa ser uma pessoa orientada pelo Espírito de Deus e pelas Sagradas Escrituras, aliado com todas as habilidades necessárias de um bom gestor, tais como: comunicação eficaz, liderança, capacidade de tomar decisões assertivas (ainda que sobre pressão), saber priorizar tarefas, gerenciar o tempo de forma eficiente, delegar responsabilidades de maneira adequada, ter a capacidade de identificar, analisar e resolver problemas de forma criativa e eficaz, ser capaz de construir e manter relacionamentos positivos e ter uma compreensão clara dos objetivos do Reino de Deus e ser capaz de desenvolver e implementar estratégias para alcançá-los a longo prazo. De fato, a autora coloca muito bem quando afirma que o trabalho do gestor de igrejas, acaba sendo mais desafiador quanto a do administrador, visto que vai além da sabedoria adquirida em formação acadêmica ou em experiência administrativa, exigindo que a gestão seja aprovada por Deus.
Dentro da realidade econômica e política do Brasil, o gestor precisa reconhecer as obrigações do Estado e também dos indivíduos, para legitimar suas ações e definir a melhor estratégia de gestão eclesiástica. Ao compreender que as igrejas estão dentro do Terceiro Setor, espera-se que elas supram aquilo que o Estado deixa de oferecer em suas ações sociais, auxiliando pessoas com as mais distintas carências, de forma autônoma e organizada. É importante ressaltar que o papel da igreja dentro do Terceiro Setor pode variar significativamente de acordo com a sua doutrina, valores, recursos disponíveis, contexto social e cultural, bem como as necessidades e prioridades das comunidades atendidas. Com a execução de iniciativas sociais por uma organização do Terceiro Setor ligada à igreja também é facilitada a implementação de ferramentas de gestão que, atualmente, são imprescindíveis ao sucesso de qualquer projeto, como planejamento estratégico, monitoramento e avaliação de resultados, gestão de comunicação, aplicação de processos de transparência e compliance.
Nesse cenário, a autora coloca que o Planejamento no nível estratégico é o mais indicado para Gestão de Igrejas, e essa gestão precisa ser empregada como instrumento dinâmico, pois o método e as ferramentas podem sofrer alterações ao longo do processo de gestão, mas os valores, a visão, a missão e os objetivos, sempre serão a base do planejamento e da avaliação de cada operação estratégica na igreja. Esse é o grande desafio, implantar essa gestão por meio da prática sistematizada das estratégias a partir de uma visão definida, por meio de uma estruturação lógica e interligada a cada nível de atividade presente na instituição religiosa. Distribuir as pessoas nos lugares certos e implementar novas metodologias, tecnologias, linguagens e ferramentas de gestão no contexto atual, sem corromper a verdade Bíblica é essencial para a execução dessa gestão. Embora a natureza espiritual da igreja possa diferir de uma organização empresarial típica, os princípios do planejamento estratégico ainda são aplicáveis e podem ajudar a igreja a definir seus objetivos, identificar suas forças e fraquezas, e desenvolver planos para alcançar suas metas de forma eficaz. Dada a leitura realizada no artigo, percebo que essa implantação pode seguir algumas etapas, como: avaliar a situação atual da igreja, estabelecer uma visão clara do que pretende alcançar a longo prazo e uma missão que expresse seu propósito central e seus valores fundamentais, estabelecer objetivos estratégicos específicos e mensuráveis que deseja alcançar. Após a definição das estratégias, é hora de implementar o plano, atribuindo responsabilidades, alocando recursos e monitorando o progresso em direção aos objetivos estratégicos. O processo de planejamento estratégico na gestão eclesiástica deve ser contínuo e adaptativo. É importante envolver toda a liderança e membros da igreja no processo de planejamento estratégico, garantindo um senso de propriedade e comprometimento com os objetivos e planos da igreja. Além disso, a oração e a busca da orientação divina são componentes essenciais do processo de planejamento estratégico na gestão eclesiástica, reconhecendo a importância da sabedoria espiritual e direção divina no discernimento e tomada de decisões. É essencial também estabelecer um processo de avaliação e controle para averiguar se os resultados estão sendo atingidos. A igreja deve regularmente avaliar o progresso em relação aos objetivos estratégicos, identificar áreas de sucesso e desafios, e fazer ajustes no plano conforme necessário para garantir sua relevância e eficácia contínuas.